segunda-feira, 2 de maio de 2016

ERRO MÉDICO INCAPACITA

Juiz condena médico a pagar R$ 20 mil para idosa após erro em cirurgia em Goiás (Foto: Divulgação)Francisca diz que não consegue mais trabalhar ou sair para dança forró (Foto: Arquivo pessoal)

09/03/2016 06h45
Médico terá de pagar R$ 20 mil a idosa após erro em cirurgia, em Goiás
Segundo a Justiça, durante retirada do útero, ela teve canal renal cortado.
Assim, passou a sofrer com incontinência urinária: 'Acabaram com minha vida'.


O médico Edson Pereira de Menezes foi condenado a pagar uma indenização de R$ 20 mil, por danos morais, após um erro durante uma cirurgia, em Acreúna, no sul de Goiás. A paciente, a doméstica Francisca Paula Conceição da Cruz, de 60 anos, passou pelo procedimento para a retirada do útero. Porém, segundo a Justiça, foi cortado o canal renal irregularmente, o que gerou incontinência urinária e "sons indesejáveis" em seu órgão sexual.

A condenação foi expedida pelo desembargador Fausto Moreira Diniz, da 6ª Câmara Cívil de Goiás, no último dia 23 de fevereiro.

O advogado do médico, Manoel Araújo de Almeida, disse que vai recorrer da decisão.

A cirurgia, chamada de histerectomia, ocorreu em junho de 1999. Francisca, que é moradora de Rio Verde, no sudoeste do estado, diz que, antes de ser submetida a ela, conseguia trabalhar, se divertia bastante e não apresentava qualquer problema de saúde. Porém, afirma que agora se tornou uma pessoa doente e infeliz.

"Hoje não sou uma mulher perfeita. Antes eu fazia faxina a semana inteira e dançava forró sexta e sábado. Ele acabou com a minha energia, tirou o meu prazer de viver. Acabaram com a minha saúde e com a minha vida".

A mulher conta que sempre se consultou com outro médico, chamado William Costa Ribeiro, e que foi ele quem indicou a cirurgia. Segundo a paciente, ele sempre afirmou que faria a operação, mas, somente no dia marcado, avisou que Edson, que ela nem conhecia, faria o trabalho.

Na mesma ação, Francisca também pediu que William fosse responsabilizado por participação no ocorrido, o que foi negado pela Justiça. De acordo com o documento, "não há nos autos elementos comprobatórios que imputam ao mencionado médico a responsabilidade pelo insucesso do procedimento".

O advogado de William, Gilson Soares de Freitas, disse que não vai se pronunciar sobre a decisão.

Outras cirurgias

A doméstica explica que cerca de um mês após a cirurgia, procurou novamente William se queixando de dores fortes na barriga e extrema dificuldade para segurar a urina. Ela foi medicada, mas teve que voltar em seguida, quando foi decidido que ela teria que passar por outra operação.

O procedimento novamente foi realizado por Edson. Mesmo assim, o problema persistiu. Francisca alega ainda que sofreu com o deboche dos dois médicos.
Eu fiquei dois meses internada e eles me maltrataram muito. Colocaram uma sonda em mim que eu não aguentava de tanta dor e o xixi passava. Quando me viam, eles falavam: 'E aí cano furado, como você está?'. Ficavam caçoando de mim"
Francisca da Cruz, doméstica

"A segunda operação piorou ainda mais a situação. Era a mesma coisa de abrir uma torneira. Eu fiquei dois meses internada e eles me maltratavam muito. Colocaram uma sonda em mim que eu não aguentava de tanta dor e o xixi passava. Quando me viam, eles falavam: 'E aí cano furado, como você está? '. Ficavam caçoando de mim", lamentou.

Em dezembro de 2011, então, a mulher foi levada para um hospital de Nerópolis, na Região Metropolitana de Goiânia, e passou pela terceira cirurgia, desta vez com outro médico. O problema foi controlado parcialmente, mas ela segue com dificuldades.

"Vivo inútil dentro de casa. Às vezes, molho três lençóis por noite, faço xixi sem parar. A bexiga não dá sossego. Além disso, minhas partes íntimas fazem um barulho alto que não dá para controlar. Passo vergonha. Fui lá para resolver um problema e voltei com outro", lamenta.

Antes de ir à Justiça, em 2000, a paciente fez uma denúncia no Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) contra os dois médicos. Porém, somente William foi condenado por infringir os artigos 2º e 33 do Código de Ética Médica. Edson foi absolvido.

A assessoria de imprensa do Cremego informou que não pode informar qual o tipo de punição foi aplicada ao profissional.

Decisão reformada
O valor de R$ 20 mil de indenização ocorreu após a sentença do caso ser reformada pelo desembargador Fausto Moreira Diniz, relator do processo. Francisca já havia ganhado a causa com uma indenização de R$ 7 mil. Porém, a defesa dela entrou com recurso para reajustar o montante.

Além disso, ela pediu uma pensão vitalícia porque alegava que não estava mais apta a trabalhar. No entanto, o requerimento foi negado. O juiz relata que, em perícia realizada, "não houve comprovação de incapacidade para o trabalho”.

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